quarta-feira, 14 de novembro de 2012

Ruim com ele, melhor sem ele

*por Renato da Silva Pinto

Os 23 anos de mandato de Ricardo Teixeira, na presidência da CBF (Confederação Brasileira de Futebol), foram marcados por vitórias, derrotas, títulos e decepções. Na gestão, que durou de 1989 a 2002, a seleção canarinho protagonizou conquistas expressivas como Copas Américas, das Confederações e duas vezes do Mundo, em 1994 e em 2002. Mas além de títulos, o mineiro de 65 anos, também colecionou escândalos políticos e administrativos, principalmente os que o envolveram em esquemas de corrupção – incluindo lavagem de dinheiro, recebimento de propina e superfaturamento.



Em março do ano passado, o Deputado Federal Anthony Garotinho propôs a abertura de uma CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito) para investigar as ações do então mandatário quanto a Copa do Mundo de 2014, realizada no Brasil. As questões abordadas pelo parlamentar referiam-se ao critério de divisão de lucros entre a CBF e as emissoras de rádio e televisão. Na época, Teixeira buscou o apoio do Governo Federal para impedir a ação, alegando que a imagem de uma CPI não seria boa para o país sede.
 A manobra política surtiu efeito e as 171 assinaturas necessárias para a aprovação do requerimento não foram coletadas. “Melhor” do que isso, o projeto de uma Comissão Parlamentar caiu no esquecimento.

O apogeu da crise envolvendo Ricardo Teixeira aconteceu 1 ano depois, em março de 2012, logo após uma série de reportagens da Rede Record de Televisão sobre a administração fraudulenta. Meses de investigação culminaram na descoberta de um superfaturamento milionário, proveniente de uma partida amistosa entre Brasil e Portugal. Fora dos gramados, o dirigente arrecadou cerca de R$ 9 milhões, distribuídos em partes diferentes entre amigos e envolvidos.

Os registros também provaram um patrimônio incompatível com o salário da CBF. No começo de 2011, Ricardo possuía uma casa de praia em Búzios, uma mansão de 600 m² em Delray Beach, na Flórida (EUA), e um terreno em um condomínio fechado em Itanhangá, na zona oeste do Rio de Janeiro. Para o jornalista Juca Kfouri, que acompanhou a carreira de Teixeira, e contra quem tem mais de uma centena de ações na Justiça, há algo de estranho nisso. “Obviamente, o patrimônio dele não é compatível com o quanto ele ganha”, afirmou em entrevista ao site “R7”.

 Pior ou tão grave quanto às ocorrências anteriores, é o fato de o irmão do dirigente, Guilherme Teixeira, ser o representante da Sanud no país, empresa em paraíso fiscal que, segundo a Justiça suíça, recebeu propina das vendas de direito de transmissão. As acusações foram oficialmente feitas pela rede britânica de televisão, BBC. De acordo com a imprensa estrangeira, o ex-chefe da Confederação Brasileira de Futebol e o sogro, João Havelange, receberam R$ 15,1 milhões.

  As denúncias de lavagem de dinheiro, de superfaturamento, de recebimento de propina e de tantas e tantas outras, impossíveis de serem relatadas com profundidade neste artigo, resultaram na renúncia ao cargo de presidente. Coincidentemente, a partir deste episódio as obras de infraestrutura ganharam ritmo acelerado e a Copa do mundo de 2014 passou a ter credibilidade entre as autoridades envolvidas no projeto.

No site oficial da competição é possível acompanhar a rápida evolução dos empreendimentos.  A “Arena do Corinthians”, sede paulista, registra 55% de avanço. Os degraus das arquibancadas inferior e superior do setor leste já estão assentados e os trabalhos de montagem nas arquibancadas do setor oeste, sul e norte estão em fase final de conclusão. Dois dos túneis, que servirão de saídas de emergência nos dias de jogos e shows, estão praticamente concluídos, bem como a galeria subterrânea de serviço.

Também estão sendo executados serviços de acabamento em vários pontos, como nos banheiros e nos espaços reservados para as concessões de lojas e lanchonetes. Ao todo, 2.200 trabalhadores atuam no canteiro de obras, divididos em três turnos. A arena terá capacidade para 65 mil torcedores, sendo 48 mil assentos convencionais e 17 mil lugares retráteis, exigidos pela FIFA para a abertura, que deverão ser removidos após o Mundial. O estádio terá 120 camarotes, seis mil cadeiras superiores cobertas, 10 mil cadeiras numeradas cobertas, restaurantes e 3.500 vagas no estacionamento. O investimento previsto no projeto é de R$ 820 milhões, sendo R$ 400 milhões de financiamento federal, feitos através do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento).

Em Minas Gerais, o gramado do “Mineirão”, já começou a ser plantando. Cerca de 540 mil mudas formarão o gramado de 105m x 68m de dimensão. Serão colocadas à mão e após o plantio, uma máquina conhecida como cultivadeira vai rolar sobre o tapete verde e fixa-las ao solo. As obras de modernização do Mineirão estão 93% concluídas. Aproximadamente 2.000 operários trabalham atualmente na edificação de bares e banheiros, que atingiu 96% de conclusão.

Também estão avançadas as atividades de infraestrutura elétrica e hidráulica, a instalação da membrana da cobertura, a montagem da passarela que liga o estádio ao Mineirinho e a colocação dos guarda-corpos e catracas na esplanada, tão quanto as instalações das cadeiras está 95% concluída. Telões e iluminação no interior também já foram colocados. A entrega está marcada para 21 de dezembro. A partida inaugural está prevista para o primeiro trimestre de 2013.

Mas o Castelão, em Fortaleza, é onde as obras encontram-se em estágio mais avançado. De acordo com a construtora responsável, no início de novembro o empreendimento alcançou 92,83% de conclusão. Ainda neste mês, o estádio começa a receber a chamada “pele de vidro”, que revestirá parte da Arena, prevista para ser entregue no dia 15 de dezembro.

Como já foi citado, os projetos geraram (e ainda geram) centenas de empregos em todo o país, principalmente nos que se referem aos serviços primários de construção. O Governo do Mato Grosso, em parceria com o Ministério do Trabalho e do Emprego e com a participação da Prefeitura de Cuiabá, oferece 700 vagas distribuídas entre pedreiros, carpinteiros, soldadores, eletricistas, montadores, ajudantes e encanadores. Os espaços serão preenchidos em obras da FIFA na região, para a Copa de 2014.

O evento, mais conhecido e disputado em todo mundo, também dá oportunidades para que profissionais de outros setores – e isso inclui hotelaria e comércio em geral – se aperfeiçoem no que diz respeito ao aprendizado de novas línguas, costumes e métodos de trabalho. Com certeza, os próprios brasileiros desfrutarão da melhoria antes e após o torneio.

Claro, há muito o que melhorar e não podemos, em hipótese nenhuma, desprezar o fato de que as obras, em fase final de construção, saíram mais caras do que o previsto. Mas o trem que leva o desenvolvimento e a prosperidade parece ter finalmente entrado nos trilhos. As 12 cidades sedes respiram mais aliviadas, principalmente depois da saída de Ricardo Teixeira e do ilícito Orlando Silva, ex-ministro do esporte, afastado por envolvimento em esquemas de corrupção. Afinal, até eu, o maior dos pessimistas, começo a acreditar no comercial de uma marca de cerveja: “Pessimistas, pensem bem. O país que faz os maiores clássicos, o réveillon e o carnaval, vai fazer a melhor festa já vista”.

*Renato da Silva Pinto é jornalista formado pelas Faculdades Integradas Alcântara Machado e atualmente cursa pós graduação em Jornalismo pela Cásper Líbero.

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